Nas matas da Guiné-Bissau há pessoas a cortar madeira contra a vontade das populações, um fenómeno recente que o ambientalista Bocar Seidi resume numa frase: "Estamos a assistir a um desastre ecológico".
"Há uma destruição maciça da floresta" da Guiné-Bissau, afirma o jovem no meio das matas de Colbuia, uma aldeia do sul do país, na região de Quebo, já perto da Guiné-Equatorial.
Foi lá que falou à Lusa, no meio de uma estrada improvisada mata dentro e com barulho de motosserras em fundo. Porque nas matas de Colbuia, além de Seidi, há madeireiros a cortar todas as árvores de pau-sangue e há gente a carregar os toros de madeira em contentores.
O corte de madeira sem controlo começou no início do ano por todo o território da Guiné-Bissau, de acordo com as notícias que têm surgido repetidamente na imprensa. Notícias de desmatação descontrolada na região de Farim, leste, na região de Cacheu, a norte, na região de Bafatá, também a leste.
E desmatação descontrolada também a sul, nas matas de Colbuia, como constatou a Lusa. Bocar Seidi diz que o mesmo se passa nas localidades vizinhas de Cumbijã, Nhacuta ou Lenguel, e aponta o dedo a empresários chineses.
"Fomos invadidos pelos projectos chineses, que de facto esta zona está a ser cortada de um lado para o outro", diz o jovem, que faz parte da associação ambientalista Adecol (de Colbuia). E de facto por todo o lado se vêem troncos de árvores prontos a serem transportados e restos do que já foi árvore pau-sangue, única madeira usada na Guiné-Bissau para fazer alfaias agrícolas.
Até agora a floresta tinha sido preservada mas em Janeiro tudo mudou, conta, afiançando que dali já foram levados 32 contentores de madeira, cada um com 16 toneladas. Especialmente os jovens, adianta, reagiram contra, chegando a apreender motosserras e mandado para casa os madeireiros, a maior parte contratados na vizinha Guiné-Conacri.
E queriam também uma reacção do Governo mas até agora nada, diz. A região é zona protegida e toda a população, garante, está contra o corte, incluindo os anciãos. Mas quando questionado se a culpa é dos chineses a resposta é pronta: "Os responsáveis não são os chineses, são os guineenses que pegaram no contrato e lho deram para fazer a devastação".
Luta pela sobrevivência
Tagmé N´Bunde, da tabanca (aldeia) de Lenguel, está com outros jovens junto de um contentor meio carregado por vários cidadãos da Guiné-Conacri. Também acusa empresários chineses e garante que aquele contentor está apreendido. Um cidadão de origem chinesa deixou apressadamente o local sem ser possível à Lusa questioná-lo.
Mas os motivos que os levam a impedir o carregamento são outros. "Enquanto não nos deram o que prometeram a madeira não sai", diz à Lusa, explicando que empresários chineses tinham dito que iriam construir uma escola, um poço e arranjar o campo de futebol, provendo-o de equipamentos. Até agora nada foi feito, afirma.
Em Colbuia também o líder juvenil Rashid Bari resume assim a sua revolta: "Fizemos uma reivindicação para parar o corte de madeira porque não estamos a beneficiar nada". Na tabanca, não longe da estrada alcatroada, um monte de madeira aguarda num contentor.
No centro da aldeia juntam-se os anciãos, os "homens grandes". Sentados em roda, solenes, explica um: "Há pessoas que invadiram as matas e não nos entendemos com eles, não aprovamos isso, aqui vivemos da floresta, já apresentámos queixa às autoridades e disseram que tínhamos razão mas ainda não vimos nenhum resultado".
Issa Seidi é um dos líderes da comunidade. Lembra que sem árvores e com o barulho das motosserras os animais se vão embora, diz que "estão a destruir tudo" e avisa que quem tocar na floresta vai ter problemas.
"Podem matar-nos mas não vamos abandonar a floresta, estamos a lutar pela sobrevivência dos nossos filhos", diz pausadamente, acrescentando que toda a população está contra.
No final todos os anciãos se baixam e rezam. Em silêncio e em dialecto Fula, se calhar pela floresta. A escassos quilómetros o barulho dos insectos e dos pássaros rivaliza com o de motosserras. Por todos os lados, nas matas de Colbuia. In Público
Foi lá que falou à Lusa, no meio de uma estrada improvisada mata dentro e com barulho de motosserras em fundo. Porque nas matas de Colbuia, além de Seidi, há madeireiros a cortar todas as árvores de pau-sangue e há gente a carregar os toros de madeira em contentores.
O corte de madeira sem controlo começou no início do ano por todo o território da Guiné-Bissau, de acordo com as notícias que têm surgido repetidamente na imprensa. Notícias de desmatação descontrolada na região de Farim, leste, na região de Cacheu, a norte, na região de Bafatá, também a leste.
E desmatação descontrolada também a sul, nas matas de Colbuia, como constatou a Lusa. Bocar Seidi diz que o mesmo se passa nas localidades vizinhas de Cumbijã, Nhacuta ou Lenguel, e aponta o dedo a empresários chineses.
"Fomos invadidos pelos projectos chineses, que de facto esta zona está a ser cortada de um lado para o outro", diz o jovem, que faz parte da associação ambientalista Adecol (de Colbuia). E de facto por todo o lado se vêem troncos de árvores prontos a serem transportados e restos do que já foi árvore pau-sangue, única madeira usada na Guiné-Bissau para fazer alfaias agrícolas.
Até agora a floresta tinha sido preservada mas em Janeiro tudo mudou, conta, afiançando que dali já foram levados 32 contentores de madeira, cada um com 16 toneladas. Especialmente os jovens, adianta, reagiram contra, chegando a apreender motosserras e mandado para casa os madeireiros, a maior parte contratados na vizinha Guiné-Conacri.
E queriam também uma reacção do Governo mas até agora nada, diz. A região é zona protegida e toda a população, garante, está contra o corte, incluindo os anciãos. Mas quando questionado se a culpa é dos chineses a resposta é pronta: "Os responsáveis não são os chineses, são os guineenses que pegaram no contrato e lho deram para fazer a devastação".
Luta pela sobrevivência
Tagmé N´Bunde, da tabanca (aldeia) de Lenguel, está com outros jovens junto de um contentor meio carregado por vários cidadãos da Guiné-Conacri. Também acusa empresários chineses e garante que aquele contentor está apreendido. Um cidadão de origem chinesa deixou apressadamente o local sem ser possível à Lusa questioná-lo.
Mas os motivos que os levam a impedir o carregamento são outros. "Enquanto não nos deram o que prometeram a madeira não sai", diz à Lusa, explicando que empresários chineses tinham dito que iriam construir uma escola, um poço e arranjar o campo de futebol, provendo-o de equipamentos. Até agora nada foi feito, afirma.
Em Colbuia também o líder juvenil Rashid Bari resume assim a sua revolta: "Fizemos uma reivindicação para parar o corte de madeira porque não estamos a beneficiar nada". Na tabanca, não longe da estrada alcatroada, um monte de madeira aguarda num contentor.
No centro da aldeia juntam-se os anciãos, os "homens grandes". Sentados em roda, solenes, explica um: "Há pessoas que invadiram as matas e não nos entendemos com eles, não aprovamos isso, aqui vivemos da floresta, já apresentámos queixa às autoridades e disseram que tínhamos razão mas ainda não vimos nenhum resultado".
Issa Seidi é um dos líderes da comunidade. Lembra que sem árvores e com o barulho das motosserras os animais se vão embora, diz que "estão a destruir tudo" e avisa que quem tocar na floresta vai ter problemas.
"Podem matar-nos mas não vamos abandonar a floresta, estamos a lutar pela sobrevivência dos nossos filhos", diz pausadamente, acrescentando que toda a população está contra.
No final todos os anciãos se baixam e rezam. Em silêncio e em dialecto Fula, se calhar pela floresta. A escassos quilómetros o barulho dos insectos e dos pássaros rivaliza com o de motosserras. Por todos os lados, nas matas de Colbuia. In Público
Nenhum comentário:
Postar um comentário