segunda-feira, 30 de março de 2020

Amendoais superintensivos ameaçam saúde publica e ambiente em Idanha-a-Nova

Nova área de 300ha em consulta Publica - Quercus emite parecer negativo e apela à participação de todos

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Um Projeto de instalação de novo amendoal superintensivo em Idanha a Nova, em pleno Geoparque Naturtejo, na Bio Região de Idanha-a-Nova e nas proximidades do Parque Natural do Tejo Internacional, ameaça a saúde pública e o ambiente. A Quercus exige que o Governo não autorize a instalação de mais um amendoal e apela a todos os cidadãos e empresas para participarem e contestarem esta nova área no âmbito do processo de avaliação de impacte ambiental que se encontra em consulta publica.

Monoculturas intensivas

A região de Idanha-a-nova tem atraído nos últimos anos empresas e cidadãos nacionais e estrangeiros que procuram um modelo de desenvolvimento sustentável baseado nos recursos endógenos desta região raiana que tem um patrimônio natural e cultural singular, apostando na agricultura e pecuária biológica, na permacultura, no turismo, na organização de eventos, e outras atividades sustentáveis. A instalação de grandes áreas com estas monoculturas intensivas vem por em causa este modelo de desenvolvimento mais sustentável e os cidadãos e empresas que procuravam esta região classificada e nela fizeram uma aposta de vida e investimentos nesta região.
São vários os problemas ambientais que têm vindo a ser relatados devido à instalação destas monoculturas superintensivas e que tem a ver com a contaminação do ar, dos solos e da água, diminuição de biodiversidade e degradação dos solos, entre outros, sobretudo derivados às práticas utilizadas e aos produtos agrotóxicos usados regularmente nos tratamentos.



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Recursos hídricos e REN em perigo
  
No que concerne aos recursos hídricos superficiais o Vale Serrano fica situada na bacia hidrográfica do Tejo , sendo a linha de água a ribeira da Presa, a qual é afluente da ribeira do Freixo. Estas ribeiras encontram-se localizadas na sub-bacia do Ponsul. O rio Ponsul constitui- se como um dos grandes afluentes do Tejo em pleno parque Natural do Tejo Internacional.
O projecto agora em consulta pública prevê gastar 100 mil euros/ano em pesticidas e tratamentos agrotóxicos só em glifosato está previsto a aplicação de mais de 600kg/ano. Os pesticidas e fertilizantes utilizados poderão ser lixiviados e arrastados para estes rios e para os aquíferos subterrâneos, aquífero este que apresenta uma vulnerabilidade padrão média COMUNICADO DE IMPRENSA a alta à contaminação e uma vulnerabilidade média a alta aos pesticidas. Estes impactes estão identificados no EIA e poderão ter um impacto muito maior e cumulativo com outras áreas adjacentes. O próprio projecto prevê uma área total no futuro de 2000ha na região! A requalificação da barragem existente assim como a implantação da nova barragem e respetivas áreas inundáveis até ao NPA(nível de pleno armazenamento) proposto, assim como a implantação agrícola, vão afetar 155 ha de áreas de REN (Reserva Ecológica Nacional), nomeadamente áreas classificadas como cabeceiras das linhas de água e leitos dos cursos de água e ainda 16ha de RAN (Reserva Agrícola Nacional).


  

População e explorações de agricultura biológica ameaçadas

Para qualquer herbicida cujo dispositivo de aplicação gere gotas de 100m ou inferiores, estas transformam-se em partículas de aerossol que, uma vez suspensas na atmosfera, poderão mover-se a longas distancias com o favorecimento do ciclo diurno, da humidade do ar e da intensidade do vento. Num dia calmo com baixa humidade relativa, uma gota de 100 m ou inferior, irá evaporar-se em menos de 6 segundos, ficando em suspensão no ar. Por exemplo, para uma temperatura do ar de 32 Cº e 36% de humidade relativa, uma gotícula de 50 m irá viajar cerca de 7,5cm do bocal do pulverizador e evaporar-se-á em menos de 2 segundos (Jordan et al. 2009). Estes aerossóis suspensos na atmosfera podem mover-se por longas distancias antes de se depositarem e contaminarem outras explorações agrícolas limítrofes assim como as populações residentes nas zonas mais próximas.

Impacto na fauna e habitats

A área de projeto, pela sua grande dimensão, apresenta uma sensibilidade relativamente alta e interfere inevitavelmente com o equilíbrio dos ecossistemas naturais presentes. Devido às mobilizações de terras, alteração do relevo, circulação constante de veículos, maquinaria e pessoas na área, sendo de salientar que a movimentação de terras e terraplanagens tornam os impactes parcialmente irreversíveis. É de salientar que a destruição e/ou remoção do coberto vegetal, compactação do solo e posterior impermeabilização são impactes negativos, diretos, de magnitude elevada, significativos e permanentes para o descritor de flora e vegetação.
A destruição dos habitats existentes no terreno constitui um dos principais impactes sobre a fauna, uma vez que estes proporcionam refugio, alimento e possibilidade de camuflagem. O projeto previsto para a propriedade de Vale Serrano implica mobilização dos solos e destruição significativa da vegetação natural presente. Perdem-se áreas abertas de pastagem ou de matos baixos para dar lugar a uma produção intensiva de amendoal, sendo expetáveis alterações nas comunidades faunísticas associadas. Em consequência do impacte anterior gera-se um efeito- barreira significativo. Esta interrupção nos habitats naturais caraterísticos locais pode reduzir ou fragmentar áreas vitais, retirando recursos alimentares deixando os animais muito expostos, tendo como consequência direta o afastamento ou exclusão de espécies faunísticas.

Quercus dá parecer negativo e apela à participação de todos na consulta publica
Esta actualmente em consulta pública até dia 20-04-2020 a Avaliação de Impacte Ambiental da instalação de mais 300ha de amendoal superintensivo na Propriedade de Vale Serrano, Idanha- a-Nova em Castelo Branco, mas que pretende somar uma área com mais de 2000ha. A Quercus apela a todos os cidadãos , empresas e outras entidades que participem na consulta dando o seu parecer e opinião. A participação é feita através do portal participa da Agencia Portuguesa do Ambiente: https://participa.pt/pt/consulta/propriedade-de-vale-serrano-idanha-a-nova

Preocupada com os impactes que esta instalação poderá ter no ambiente local e na saúde das populações envolventes, nomeadamente problemas de contaminação dos recursos hídricos, de propriedades circundantes, ao nível respiratório e de pele, a Quercus exige que o Ministério do Ambiente e o Ministério da Agricultura não autorizem a instalação do referido amendoal.

Castelo Branco, 18 de março de 2020
A Direção do núcleo regional de Castelo Branco

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