segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Plano de Ação contra a Vespa asiática: maioria das medidas ainda não saiu do papel


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COMUNICADO DE IMPRENSA

Plano de Ação contra a Vespa asiática
Maioria das medidas ainda não saiu do papel



O “Plano de Ação para a Vigilância e Controlo da Vespa velutina em Portugal”, elaborado pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), peca essencialmente por falta de implementação, mas levanta também várias questões importantes que podem pôr em causa a sua eficácia e a proteção da biodiversidade em Portugal. 

Imagem de um ninho de vespa asiática

Passados 10 anos da introdução, em França, da Vespa velutina nigrithorax, vulgo vespa asiática, e três anos depois da sua chegada a Portugal, as autoridades tardam em implementar um plano eficaz de luta contra esta espécie invasora. A vespa asiática chegou a Viana do Castelo em 2011 e a sua expansão geográfica e demográfica foi muito rápida, estando já bem instalada nas regiões do Douro Litoral e Minho e continuando a progredir para sul e este. 

A revisão ao Plano de Ação, apresentada recentemente, suscitou à Quercus sérias dúvidas. Apesar de, no geral, o plano fazer uma boa análise da situação e de como agir, não é verdadeiramente um ‘Plano de Ação’ como o seu nome indica, pois não apresenta um plano de implementação com datas, metas e responsabilidades bem definidas.

Quando é que o plano vai começar verdadeiramente a ser implementado?

O plano parece remeter tudo para o futuro quando já se passaram três anos desta espécie invasora em Portugal e temos já uma invasão descontrolada, com muitos apicultores afetados. Desconhecem-se quais os meios disponíveis ou que vão ser disponibilizados para combater a invasão.

Segundo o plano, a comunicação de avistamentos de vespas velutinas e respetivos ninhos terá de ser feita exclusivamente através do preenchimento de um formulário disponível numa página de internet. A própria linha SOS AMBIENTE vai encaminhar as pessoas para o site. A Quercus apela, assim, ao ICNF e à DGAV para facilitarem o processo de comunicação de avistamentos. O processo descrito no plano corresponde a uma burocratização desnecessária e a um obstáculo na contribuição da população.

A página de internet anunciada múltiplas vezes no plano, e que parece ser um elemento central na implementação do mesmo, ainda não existe. Quando é que estará online a página vespavelutina.pt?

O Plano de Ação diz também que a responsabilidade da destruição dos ninhos é da respectiva Câmara Municipal. Através do contacto com algumas autarquias e de relatos na comunicação social de autarquias afetadas, é visível o desconhecimento e descoordenação das Câmaras Municipais e a sua falta de preparação. A luta contra a Vespa velutina tem uma abrangência nacional e uma forma de atuação igual, independentemente do concelho. Mais ainda, a destruição de ninhos exige equipamento e preparação muito específicos, pelo que a Quercus pergunta: não será mais sensato haver uma entidade preparada a nível nacional para destruir os ninhos?

A Quercus defende que há necessidade de um plano de conservação das vespas autóctones, que podem ser uma peça importante no combate à expansão da vespa asiática. Isto porque em Portugal também existem vespas grandes que predam abelhas, como é o caso das Vespas crabro que, por serem confundidas com as vespas asiáticas, estão a ser perseguidas e apanhadas nas armadilhas para capturar vespas asiáticas. Daí que a Quercus queira ver o Plano de Ação a ser implementado com especial atenção à biodiversidade autóctone e com uma forte componente de sensibilização de apicultores e população em geral para não colocar ainda mais em risco a biodiversidade portuguesa.

Quercus lançou a campanha SOS Polinizadores

Preocupada com o declínio dos insectos autóctones, a Quercus lançou este ano a campanha SOS Polinizadores (http://polinizadores.quercus.pt) da qual irão em breve fazer parte materiais de sensibilização sobre as vespas autóctones e a Vespa velutina.

propagação das espécies exóticas e invasoras é uma das principais causas da perda de biodiversidade e de degradação dos serviços de ecossistemas em toda a União Europeia e no mundo. Só na UE, o custo económico das espécies exóticas e invasoras estima-se em pelo menos doze mil milhões de euros por ano (12.000.000.000 € / ano). Já o valor económico dos serviços de polinização foi estimado em cerca de 160 mil milhões de euros a nível mundial.

Embora já esteja incluída no Plano de Ação a colaboração do INIAV, a Quercus sugere que sejam criadas bolsas de investigação específicas para as Universidades desenvolverem formas de luta e prevenção como, por exemplo, armadilhas específicas para a Vespa velutina.

A Quercus é também da opinião de que se deve apostar mais na prevenção. Após a introdução da Vespa velutina em Bordéus, França, em 2004, as autoridades portuguesas tiveram tempo mais do que suficiente para se prepararem para esta invasão, a qual já se esperava que atingisse Portugal mais tarde ou mais cedo. Em 2011, quando se avistaram e identificaram as Vespas velutinas em Viana do Castelo, deveriam ter sido alocados muitos mais recursos para a eliminação dos ninhos pois a invasão ainda estaria numa fase de mais fácil contenção.

Está em curso na Europa, e especificamente em Itália, o início de mais uma praga para a apicultura, uma praga que muitos dizem ser a pior de todas, que é o pequeno escaravelho das colmeias, Aethina tumida. A Quercus apela para que as autoridades portuguesas acompanhem o progresso de mais esta espécie invasora, numa perspetiva de prevenção, de preparação atempada e não de remediação.

No caso da vespa asiática, não só as autoridades portuguesas não se prepararam atempadamente como, mesmo passados três anos após a sua introdução, ainda estão mal preparadas e a adiar a implementação do Plano de Ação.

Lisboa, 17 de outubro de 2014

A Direção Nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza


Para mais informações contactar:
Ricardo Marques – 910 906 079
João Branco – 937 788 472

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