24/09/2008 - 05h09
União Européia avalia inclusão de créditos florestais no esquema de carbono
Por Sabrina Domingos, do Carbono Brasil
As dificuldades para se mensurar a absorção de carbono pelas florestas têmdeixado as árvores de fora do esquema europeu de negociações de emissões (EUETS), mas a União Européia pretende incluir as florestas tropicais no maiormercado de carbono do mundo realizando algumas emendas às regras atuais. Oassunto será debatido pelo Comitê de Meio Ambiente do Parlamento Europeu em07 de outubro. Grupos de conservação e países em desenvolvimento ricos em biodiversidadedefendem a criação de créditos de carbono baseados em florestas. Uma vitórianesse sentido foi alcançada no início do mês, quando o Comitê de Indústriado Parlamento mostrou-se favorável aos créditos florestais. O diretor-executivo do Programa Dossel Global, uma aliança de 38instituições cientificas que estudam florestas tropicais, Andrew Mitchell,acredita que um voto positivo poderia liberar bilhões de dólares para aproteção das florestas. “Esta é a maior e mais imediata oportunidade que omundo tem para gerar financiamentos de larga escala para as florestastropicais como um meio para mitigar as mudanças climáticas”, entende. A princípio, integrar as florestas existentes às iniciativas globais demudanças climáticas é uma atitude positiva, já que o desmatamento éresponsável por 20% das emissões de carbono do planeta – mais do que o setorde transporte como um todo. As preocupações metodológicas, no entanto, têm feito com que osrepresentantes do ETS lutem de maneira tímida para incluir as florestastropicais no esquema. Um dos principais obstáculos é a dificuldade de seobter dados verificáveis para questões-chaves como a capacidade exata decaptura de carbono pelas árvores. Defensores da inclusão das florestas no esquema salientam que a propostaRedução de Emissões do Desmatamento e Degradação das Florestas (REDD) estáajudando a resolver muitas das questões metodológicas. O REDD pode vir a seradotado pelo Protocolo de Quioto. Exemplo Uma iniciativa que vem dando resultado é aplicada pela Capital Canopy (umaafiliada do Programa Dossel Global sediada no Reino Unido). A entidadeconseguiu determinar um grande valor (não-revelado) para dar preço aos“serviços ambientais” das florestas de pé na Guiana - que ainda possui 85%do território coberto por floresta tropical. Os recursos para manter abiodiversidade local são provenientes de dez investidores privados, quepagam por atributos como a regulação climática, a produção de chuva e oarmazenamento de água. A Guiana, que é o terceiro menor país da América do Sul, seria um dos maisbeneficiados com a inclusão dos créditos florestais no ETS. Até agora, osesforços do presidente, Bharrat Jagdeo, para capitalizar as florestas de pépor meio de um mercado de serviços ambientais têm fracassado. “Nósprecisamos de soluções... a realidade é que o desmatamento é um resultado dofracasso de mercado que torna as árvores mais valiosas mortas do que vivas”,diz Jagdeo. Temores Alguns grupos ambientalistas, como o Greenpeace, temem que os créditos parainiciativas anti-desmatamento possam abrir as portas aos créditos porreflorestamento comercial. Os críticos das florestas comerciais, geralmente conhecidas como “sumidourosde carbono”, argumentam que é difícil garantir a longevidade de florestasplantadas e, consequentemente, de seus benefícios em relação ao carbono. Ossumidouros de carbono também são acusados de impactar negativamente abiodiversidade local e os grupos indígenas. “Nós reconhecemos que algo precisa ser feito para proteger as florestas, masnão apoiamos um mercado que não leva em conta a biodiversidade e os direitoshumanos”, afirma Joris Den Blanken, diretor de políticas européias demudanças climáticas para o Greenpeace. Os créditos florestais são uma das opções para se lutar contra odesmatamento. A Europa também discute a possibilidade de leiloar permissõesde emissões futuras do ETS e de reservar uma parte dos ganhos resultantes dapreservação das florestas. Pelo sistema atual, essas permissões são alocadasde graça. Os membros da UE, no entanto, não querem que Bruxelas defina como essesfundos devem ser gastos. As mudanças potenciais no ETS serão discutidas por líderes europeus emreunião de conselho no mês de outubro e um voto final do parlamento europeupoderá ser dado até dezembro.
* Com informações do Climate Change Corporation.
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