segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Cabras-montês da Mata do Cabril poderão ter fugido do fogo para Espanha

Helena Geraldes

O fogo que lavra há mais de uma semana na Mata do Cabril poderá ter afugentado para Espanha o núcleo de cabra-montês, espécie Criticamente em Perigo, que aí vivia isolado há cerca de dez anos. Mas o núcleo mais importante destes animais no Parque Nacional da Peneda-Gerês está a salvo.

Ontem, Miguel Dantas da Gama, do Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens (FAPAS), tentou avistar as cerca de 40 cabras-montês (Capra pyrenaica lusitanica) que vivem na Mata do Cabril, mais de metade da qual foi já atingida pelas chamas que deflagraram a 11 de Agosto. “Não consegui ver nenhuma, ainda que isso não queira dizer nada. Mas é natural que mesmo assim, com a confusão de meios aéreos e no terreno, elas se tenham afastado e atravessado a fronteira para Espanha”, contou ao PÚBLICO. “Os últimos dez dias têm trazido muitas pressões a um vale onde não há perturbações”. Na altura do incêndio, os animais encontravam-se na margem direita da Mata que faz fronteira com Espanha, a uma quota mais elevada, para escapar às elevadas temperaturas e por causa dos pastos. Agora, “a tendência será subirem para a linha de fronteira”, explicou. A alternativa seria fugir para o lado de Portugal mas para isso teriam de passar pelos solos queimados. “Parte do espaço vital das cabras da Mata já foi afectado”.

Mas apesar da intensidade do incêndio, que Dantas da Gama acredita já ter passado por 80 por cento da Mata do Cabril, não existirá “risco imediato de [as cabras] morrerem queimadas”.

O núcleo populacional desta Mata é um dos três no Parque Nacional da Peneda-Gerês. Juntamente com a Galiza, existirão 400 cabras-montês, estima Miguel Pimenta, daquela área protegida. Depois de ter sido dada como extinta em Portugal no final do século XIX, a cabra-montês foi reintroduzida em 1997 na Serra do Xurês, Galiza, medida que ditou o regresso do animal às serras do Gerês.

A área afectada este ano pelo fogo na Mata do Cabril é muito importante para esta subespécie, “devido ao seu isolamento e qualidade de habitats”, explicou ao PÚBLICO Miguel Pimenta. Foi nas suas vertentes escarpadas que surgiu o primeiro núcleo de cabra-montês, depois de ter sido reintroduzida. Desde então, a sua área de distribuição espalhou-se e actualmente o núcleo mais importante é o da Serra do Gerês.

In _Ecosfera

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