terça-feira, 26 de agosto de 2008

Primeiro biobanco do mundo nasce para proteger floresta tropical na Malásia


Fundos de private equity norte-americanos garantem um investimento
de 100 milhões de dólares para acções de protecção
da floresta

Depois dos certificados de carbono, vêm aí os créditos de biodiversidade e os biobancos. Norte-americanos, malaios e neozelandeses juntaram-se para um novo negócio com a promessa de proteger 34 mi
l hectares de floresta tropical no próximo meio século e apelar à consciência ambiental das empresas de energia, alimentação e cosmética que querem o óleo de palma da Malásia
Os mercados financeiros encontraram nos serviços ambientais um prometedor nicho de negócio e novos instrumentos para investimento estão a surgir. Inspirada nos certificados de compensação voluntária de emissões de dióxido de carbono, uma aliança entre entidades dos EUA, da Malásia e da Nova Zelândia acaba de criar o primeiro projecto, a nível mundial, de emissão de créditos de biodiversidade para a floresta tropical.
Trata-se de um sistema de créditos ambientais para a protecção da floresta tropical que serve de tampão entre a zona de expansão agrícola para a produção de óleo de palma, na Malásia; e uma das últimas áreas de floresta virgem do Nordeste do país, considerada um dos mais ricos ecossistemas do mundo. Para já, os fundos de private equity envolvidos, norte-americanos, garantem um investimento de 100 milhões de dólares para protecção da floresta, através do Banco de Conservação do Habitat Selvagem de Malua (Malásia), também conhecido como o primeiro Biobanco. O registo e a verificação dos certificados são feitos pela neozelandesa TZ1.
Cada certificado de conservação representa a protecção e recuperação de 100 metros quadrados de floresta tropical. São 34 mil hectares que serão abrangidos, localizados na Reserva Florestal de Malua, habitat de uma das mais importantes populações de orangotangos no mundo, da pantera nebulosa, de elefantes pigmeus e de 300 espécies de aves.
A New Forests, de Washington, e a Equator Environmental, de Nova Iorque, criaram o fundo Eco Products, comprometendo-se a reabilitar a reserva de Malua nos próximos seis anos e a criar um fundo e respectiva gestão para a sua conservação nos 44 anos seguintes, representando no total um contrato para 50 anos.
Ser uma primeira resposta ao forte impacto ambiental da exploração agrícola da Malásia parece até agora o argumento mais convincente para o lançamento do Biobanco. Com uma forte pressão vinda do sector energético, das indústrias alimentar e de cosmética, nomeadamente pela produção de óleo de palma, o país pode ter neste projecto uma forma de as empresas instaladas na Malásia ou compradoras dos seus produtos ajudarem a financiar a recuperação e conservação da também sua floresta tropical. Os responsáveis do projecto sublinham que estes certificados não servem para compensar a destruição ou degradação de outras florestas.
"O Biobanco de Malua transforma a protecção da floresta tropical num produto transaccionável de modo que a conservação da biodiversidade pode competir, numa base comercial, com outros usos do solo", disse Sam Mannan, o director do departamento florestal de Sabah, o estado da Malásia onde se localiza o projecto.
No lançamento da iniciativa, há cerca de uma semana, quatro empresas tinham garantido a compra de certificados, embora não tenham sido divulgados os montantes. Entre os promotores, há quem tenha mesmo a ambição de Sabah se transformar num "Silicon Valley para a inovação das finanças para a conservação", gerando novos modelos de negócio.
Os operadores do novo mercado financeiro impulsionado pelo Protocolo de Quioto, como o Ecosystem Marketplace, consideram que "as ferramentas do mercado do carbono - e as lições aprendidas com ele - continuarão a ser utilizadas em outros sistemas emergentes de créditos ambientais". O fundo Eco Products, por exemplo, trabalha não só na área de carbono e biodiversidade como também de água.
A neozelandesa TZ1, uma das grandes firmas mundiais de registo dos certificados de compensação voluntária de emissões de dióxido de carbono, é também a responsável pelo registo dos créditos do Biobanco de Malua, os chamados Certificados de Conservação de Biodiversidade, e pela sua verificação. A qualidade e a credibilidade destes projectos são, aliás, uma área tradicionalmente crítica no mercado voluntário.
Os promotores do Biobanco reconhecem que "um elemento importante do programa é criar meios credíveis e transparentes de verificar os créditos". O papel da TZ1 será fornecer um fácil serviço de registo online e dos procedimentos associados, como a guarda, transferência de titularidade ou retirada dos certificados.

O ambiente é actualmente uma boa fonte de novas expressões com direito a entrar nos dicionários. Os editores do dicionário Chambers, do Reino Unido, sobretudo conhecido pelos amantes das palavras cruzadas e dos jogos de scrabble, anunciaram uma série de novas entradas na sua obra, uma boa parte delas ligadas ao ambiente. É o caso da pegada carbónica (carbon footprint), dos ecobairros (ecovillages) e do electrosmog.
O primeiro tem a ver com as emissões de dióxido de carbono das actividades humanas, desde a alimentação às viagens, por exemplo. O segundo termo aplica-se às pequenas comunidades construídas com preocupações de sustentabilidade. O terceiro, sem tradução directa para português mas inspirado no nevoeiro com poluição (smog), refere-se aos campos electromagnéticos criados pelos computadores e telemóveis. A décima primeira edição do Chambers também inclui "taxa verde" e o food miles (medição do impacto ambiental da produção alimentar através da distância percorrida do campo à mesa). O sector financeiro, ciência, tecnologia, gastronomia e a própria cultura popular também deram o seu contributo para o último volume do dicionário britânico.

Empresas compradoras dos seus produtos passam a ajudar a financiar a recuperação e conservação da floresta tropical

Lurdes Ferreira

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