segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Perda de biodiversidade agrícola está a tornar raras algumas aves comuns

04.12.2008 Helena Geraldes
O pardal montês, a calhandrinha comum e o picanço barreteiro são algumas das aves comuns que estão a deixar de o ser, tornando-se cada vez mais raras, devido à intensificação agrícola. Portugal, ainda que com menor gravidade, segue a tendência do que se passa nos campos europeus, onde as aves comuns diminuíram para metade desde 1980, segundo um estudo divulgado esta semana pela Birdlife e European Bird Census Council (EBCC).Uma ave comum é, por definição, aquela que tem populações abundantes e bem distribuídas. Mas os campos agrícolas dos quais dependem estão a mudar, causando um declínio para o qual não se prevê "qualquer tipo de recuperação", segundo o estudo.“Para aumentar a produção agrícola são destruídas linhas de árvores, sebes, bosquetes e matas ribeirinhas que serviam de locais de refúgio, alimentação e reprodução para várias espécies”, explicou ao PÚBLICO Domingos Leitão, coordenador do Programa Rural da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea).Ainda que em Portugal a situação não seja tão preocupante como em países como o Reino Unido, Bélgica e Holanda, há regiões onde já se nota o declínio de espécies outrora comuns e que tinham funções claras de dispersão de sementes e de controlo de pragas. “É o caso dos solos agrícolas mais ricos, onde se intensificou a agricultura, como o Vale do Tejo, o Vale do Mondego e os Barros de Beja”, acrescentou Domingos Leitão.Além da destruição das infra-estruturas não produtivas mas que garantiam a biodiversidade, as aves sofrem com a transformação do mosaico agrícola em monoculturas e com o uso excessivo de fertilizantes, insecticidas e pesticidas. “Os campos agrícolas estão a deixar de ser locais de refúgio e de alimentação para serem zonas inóspitas para as aves”, lamentou. “É um equilíbrio fácil de perder mas difícil e caro para conseguir recuperar”.Além disso, o abandono da agricultura também prejudica as aves. “Nas zonas onde os solos são menos produtivos, os terrenos vão sendo abandonados. Perde-se a diversidade agrícola”.Organizações pedem mais investimento nas zonas rurais remotasA Birdlife, federação de organizações ornitológicas europeias da qual faz parte a Spea, defende um maior investimento financeiro, no âmbito da Política Agrícola Comum, nas zonas mais remotas da Europa, numa agricultura ambientalmente mais sensível. “As aves comuns espelham um problema mais grave: a perda de diversidade biológica e a desertificação humana”, notou Domingos Leitão.“Precisamos de investir o dinheiro dos impostos da União Europeia de forma mais sensível. Deixem-nos apoiar esses agricultores, que mantêm a saúde e o desenvolvimento rural e deixar de distribuir subsídios incoerentes com o ambiente”, defendeu Konstantin Kreiser, da BirdLife International, em comunicado.Segundo Domingos Leitão, “os agricultores portugueses estão muito abertos para mudar de atitude”. Em 2006-2007, a Spea arrancou com a Campanha Semear o Futuro, no âmbito da qual ajudava os agricultores a identificar que aves viviam nas suas propriedades e a protegê-las. Depois de uma paragem, o projecto será retomado para o ano. “Queremos chegar directamente a 200 agricultores” e indirectamente – através dos meios de comunicação, por exemplo - a um universo de dez mil.Quem trabalha nos campos pode ajudar as aves comuns com pequenas iniciativas. “Ao fazer a gestão das pastagens pode atrasar um pouco as colheitas se houver ninhos de aves ou pode optar por manter sebes e linhas de árvores”.Para quem não é agricultor, a solução é procurar “consumir alimentos com menor passivo ambiental, certificados, e não desperdiçar alimentos”.A Spea realiza todos os anos, desde 2004, o Censo de Aves Comuns, com a ajuda de cerca de 70 voluntários. O próximo vai decorrer de 15 de Março a 15 de Maio. “Seriam precisos dez anos de dados para conseguirmos definir uma tendência nas aves comuns. Mas o que observamos já nos permite dizer que há espécies em Portugal que estão a deixar de ser comuns”.IN ECOSFERA

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