Novo Regime de Arborização
Governo Continua a Favorecer as Celuloses
Apesar do novo
regime de arborização e rearborização, promovido pela ex-Autoridade Florestal
Nacional, no mês de maio de 2012, ter sido alvo de fortes críticas por parte
das fileiras florestais - que não a do eucalipto -, das Associações de Defesa
do Ambiente e de milhares de cidadãos que assinaram duas petições contra a nova
legislação, tudo leva a crer que o Conselho de Ministros se prepara para
aprovar uma proposta que continua a ir no sentido de permitir novas plantações
de eucaliptal sem qualquer regulamentação, sobretudo no Norte e Centro do País.
ICNF e Ministério da Agricultura reféns das celuloses
A insistência na
publicação desta legislação é reveladora da fragilidade do ICNF - Instituto da
Conservação da Natureza e das Florestas, enquanto instituição pública, e dos
decisores políticos do Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do
Ordenamento do Território, pois revela que ambos se encontram reféns das
pretensões e das ambições das celuloses, em prejuízo das restantes fileiras
florestais.
Apesar dos
resultados preliminares do 6.º Inventário Florestal Nacional (IFN6), relativos
a 2010, apontarem para uma área de 750 000 hectares de plantações de eucalipto,
e confirmarem esta espécie como aquela que mais área florestal ocupa no nosso
país, a realidade é que este valor deverá já ser muito superior se forem
considerados os povoamentos mistos, os povoamentos jovens e as áreas ardidas,
pelo que atualmente devemos estar muito próximos de um milhão de hectares de
eucaliptal em Portugal.
Sendo os resultados
publicados a demonstração cabal de que a ex – Autoridade Florestal Nacional
(hoje ICNF), Municípios e sucessivos governos não conseguiram conter a expansão
das plantações de eucalipto – uma espécie exótica invasora, ainda que tenha
interesse comercial para a indústria de celulose – a Quercus não compreende a
necessidade de se aprovar um novo regime que apenas desregulamenta o setor
florestal e que foi pensado para somente favorecer as celuloses, quando o
eucalipto é já a espécie mais abundante em Portugal.
Sendo o eucalipto
uma espécie de rápido crescimento, de acordo com o regime atual, também não se
compreende a intenção de o considerar no novo regime uma espécie comparável às
árvores autóctones de crescimento mais lento, o que é revelador da
irresponsabilidade do Governo e da Administração Pública, que deveria ser
isenta e regular adequadamente todo o setor florestal, discriminando
positivamente as espécies autóctones.
Certificação florestal em causa
De acordo com o que
veio recentemente a público, apenas as ações de arborização em áreas iguais ou
superiores a 2 hectares é que necessitarão de autorização. Ou seja, a grande
maioria do território a Norte do Tejo, em que a propriedade tem em média uma
área inferior a 1 hectare (com base nos dados oficiais inscritos na Estratégia
Nacional para as Florestas, publicada em 2006), ficará isenta desta
autorização. Assim, todas as novas plantações de eucaliptos que ocupem menos de
2 hectares ficam completamente desregulamentadas, sem que a Administração possa
intervir para garantir o correto ordenamento florestal. Se assim for, é
inevitável uma expansão descontrolada de novas plantações de eucaliptos à custa
da nossa floresta autóctone, colocando não só em causa os esforços dos pequenos
proprietários em certificarem a sua gestão florestal, que vão da cadeia de
responsabilidade até à indústria transformadora, mas também condicionando a
comercialização e a exportação de produtos florestais portugueses.
Também o surto de
conversões de pinhal bravo, de carvalhal e de povoamentos de sobreiro em
plantações ilegais de eucaliptos que se tem vindo a registar nos últimos anos
parece agora vir a ser facilitado com a aprovação do novo regime, facto que irá
afetar negativamente a diversidade biológica da nossa floresta, bem como toda a
economia ligada às empresas das fileiras do pinheiro e da cortiça, favorecendo
apenas a das celuloses.
Neste contexto,
Quercus mostra-se muito apreensiva com a aprovação de um regime jurídico
enviesado e desequilibrado, que não foi alvo de suficiente escrutínio pelas
partes interessadas, apesar de nos ter sido garantido de que tal iria ocorrer,
e apela ao Senhor Presidente da República para que não promulgue um diploma
legislativo concebido à medida dos interesses de apenas uma das fileiras
industriais – a das celuloses – em detrimento do desenvolvimento sustentável da
floresta portuguesa.
Lisboa, 8 de fevereiro
de 2013
A
Direção Nacional da Quercus –
Associação Nacional de Conservação da Natureza
Novo Regime de Arborização
Governo Continua a Favorecer as Celuloses
A
Direção Nacional da Quercus –
Associação Nacional de Conservação da Natureza
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