sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

CELORICO DA BEIRA É UM PARAÍSO PARA OS OBSERVADORES DE AVES EM ESTADO SELVAGEM


A pega-azul também conhecido como charneco é uma das aves que vive nesta zona
Turismo local pode aproveitar o número crescente de Birdwatching (observadores de aves) que está a crescer em Portugal onde já se estima que existam cerca de 5000 mil amantes desta actividade. Mas os maiores apreciadores são provenientes de países como o Reino Unido ou os países nórdicos, onde existe uma forte tradição deste turismo ecológico.
Se dentro de algum tempo começarem a aparecer por Celorico da Beira ecoturistas de binóculos, máquinas fotográficas com teleobjectivas, telescópios e uns livrinhos debaixo do braço não se admire. Celorico da Beira tem mais um potencial turístico. É um dos locais excepcionais do país para observar de aves em estado selvagem. O autarca José Monteiro promete arrancar em breve com contactos para que seja realizado um estudo com a finalidade de colocar sinalização e fazer acessos, além de tudo o que seja necessário, para que os visitantes tenham as melhores condições de observação. “Se temos esse potencial, temos de o aproveitar”, resume, adiantando que não quer perder a oportunidade de tirar proveitos de uma modalidade tem conquistado nos últimos tempos um aumento significativo de praticantes..
Só em Portugal, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves estima já a existência de cinco mil amantes deste tipo de turismo que se encontra ainda em fase embrionária. Mas se em Portugal está a dar os primeiros passos, já em países como Inglaterra, Suécia, Holanda, Estados Unidos e Canada é um dos “desporto” muito apreciado. Tanto que os Birdwatching dessas nacionalidades viajam pelo mundo para ver de perto novas aves.
Os especialistas apontam, porém, vários entraves ao desenvolvimento da actividade em Portugal. Faltam infra-estruturas. Não existem acessos e a informação é inexistente. “As autarquias deviam apostar nisto, bastava seguir o exemplo de Espanha onde o interesse é recente, mas já é possível encontrar sinalética, com painéis que explicam que tipos de aves se podem observar em determinados locais”, sublinha Gonçalo Elias, um dos membros do projecto voluntário Aves de Portugal.info.
Celorico, por exemplo, pode, segundo os especialistas, aproveitar este potencial. A zona surpreende pela elevada quantidade de espécies. Existem 450 (300 das quais residentes). Um número invulgar para uma área do interior. O fenómeno explica-se por uma conjugação de vários factores. A sua cobertura vegetal, a influência do vale do Mondego, a localização no extremo norte da Serra da Estrela, o facto de pertencer a uma zona de transição entre o clima atlântico e o de influência mediterrânica, além da proximidade com a vizinha Espanha.
Na zona de Celorico da Beira podem encontrar-se o abelharuco, pega azul, papa-figos, sombria, o bico-de-lacre, a alvéola-cinzenta, o guarda-rios, ou o melro-d’água ou bútio-vespeiro. Mas também aves de rapina como a águia-calçada, peneireiro-vulgar ou a águia cobreira. “O vale do Mondego permite a existência de aves ribeirinhas, a encosta da serra oferece o habitat perfeito para aves que gostam de altitude e depois a zona é rica em fauna natural. É uma zona de grande interesse”, conta Gonçalo Elias. Este engenheiro electrotécnico, de 45 anos, que há 30 anos se dedica a observar pássaros pelo mundo fora não esconde a satisfação pelo interesse crescente desta actividade.
Há dez anos Gonçalo deslocou-se a Celorico para realizar um trabalho para o Atlas de Aves Nidificantes e não escondeu a sua surpresa quando num só dia avistou 75 espécies diferentes. “São números que apenas se conseguem atingir em zonas aquáticas”, sublinha, adiantando que não vê a razão de não se deve aproveitar esta mais-valia para a região. “Este tipo de amantes da natureza ainda é um mercado reduzido em Portugal e, por falta de informação, os estrangeiros deslocam-se mais para o Algarve, abastado em aves aquáticas. Mas este especialista garante que os Birdwatching estariam interessados em deslocar-se a outras zonas do país, porque o seu objectivo é ver a maior variedade de aves no seu habitat natural.
O site avesdeportugal.info tem algumas informações para quem pretenda desfrutar deste prazer em Celorico da Beira. Consideram que o local de melhor acesso para visitar o vale do Mondego situa-se em Vila Boa ou na ponte da Lavandeira. Aqui destaca que ao longo do rio aparecem quatro espécies de andorinhas, incluindo a andorinha-das-barreiras, espécie pouco frequente nesta região. A densa galeria ripícola que envolve o curso de água é frequentada pela ainda pela felosa-ibérica, pelo papa-figos e outros.
Cortiçô da Serra ocorrem espécies características de zonas abertas, como o trigueirão e a cotovia-montesina e mesmo o raro cuco-rabilongo. Aqui também já foi observado o cuco-rabilongo. Mas Vale da Ribeira e Mogadouro (perto de Mesquitela), junto à ribeira de Linhares, também são referidos, embora o destaque vá para a freguesia de Fornotelheiro. É aqui que pode se encontra zonas excelentes para procurar o torcicolo, que aqui parece ser relativamente regular, o picanço-barreteiro, o abelharuco, a rola-brava, o papa-figos, a pega-azul e o pintarroxo. Mas para as aves de maior altitude o melhor é ir à aldeia de Prados, que ultrapassa a cota dos mil metros.
Para ajudar, as autarquias ou entidades podem contar com o apoio da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), uma associação científica sem fins lucrativos que promove o estudo e a conservação das aves em Portugal. A SPEA com know-how especializado, incluindo vários biólogos, realiza o estudo de campo, sinalizam os melhores locais e colocam painéis com as informações necessárias. Os honorários limitam-se ao necessário para cobrir as despesas do projecto. “Não temos fins lucrativos, mas também não dispomos de recursos financeiros para efectuar o trabalho gratuitamente. O nosso grande objectivo é promover este turismo que ajuda a preservar o ambiente”, explica a responsável pela comunicação da instituição Joana Domingues.
O investimento dos amantes desta actividade pode ser mínimo. O material resume-se a uns binóculos, instrumento indispensável para quem se quer iniciar na observação de aves. Um modelo mais modesto, mas funcional pode custar menos de 100 euros. Os mais perfeccionistas já podem recorrer a um telescópio que permite a observação de pormenores difíceis de ver com uns binóculos, sendo precioso na identificação das espécies. Um guia de campo também não pode faltar, para ajudar a identificar as aves e um caderno para tomar nota das características do local de observação, as condições climáticas e a listagem das espécies observadas.
Foto: Faísca

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