Em pleno mês de abril, início das chuvas, Recife ferve a mais de 30ºC. Se esse calor já é efeito das mudanças climáticas globais, não sabemos. Mas é certo que a nossa dendrofobia tem contribuído, e muito, para vivermos em uma cidade de clima escaldante. Do grego dendron (árvore), essa doença social alastra-se rapidamente e tem efeitos colaterais devastadores.
A dendrofobia pode ser observada com freqüência cada vez maior, nos mais diferentes ambientes, mesmo naqueles onde se espera que a cultura e a educação espantem certos medos ancestrais. Algumas pessoas, mais irreverentes do que esta autora , desconfiam que, na verdade, os humanos temem as árvores por lembrar a “floresta ancestral”, aquela que abrigava nossos ascendentes simiescos. Temem esquecer a postura ereta e voltar a macaquear nos convidativos galhos das árvores!
Exemplos dendrofóbicos não faltam, infelizmente: o Colégio Marista São Luiz, detentor de uma área verde importante no outrora agradável e arborizado bairro das Graças, por motivos ignorados, vem cortando suas grandes árvores frontais, deixando um cenário de desolação onde antes havia sombra acolhedora. E não está só na iniciativa: segue o triste exemplo da Academia Pernambucana de Letras. Aliás, a reforma do jardim do belo solar da APL denuncia os rumos perigosos escolhemos para nossa cidade: uma placa anuncia que uma empresa de construção civil é a responsável pela reforma dos jardins , um engenheiro civil apresenta-se com seu responsável técnico e alguns montes de lajotas e blocos de cimento indicam qual a matéria-prima do “jardim”.
Autor: Isabelle Meunier - professora do Departamento de Ciências Florestais da UFRPE
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