The New York Times
Entre 60% e 80% das florestas remanescentes do México estão sob controle das comunidades
Foto: Adriana Zehbrauskas/The New York Times
Enquanto o sol implacável do meio-dia atingia as montanhas cobertas de pinheiros de Ixtlan de Juarez, meia dúzia de homens empoleirados em uma encosta íngreme lutavam contra ervas daninhas para encontrar mudas que iam até a altura do joelho.
Libertar os minúsculos pinheiros que foram plantados no ano passado era apenas o primeiro passo dos muitos tomados por esta cidade para crescer as árvores até que estejam altas e prontas para a colheita, em meio século. Mas o povo de Ixtlan tem paciência.
“Nós somos os donos desta terra e tentamos conservar a floresta para os nossos filhos, para os nossos descendentes”, disse Alejandro Vargas, inclinado sobre seu facão durante uma pausa. “Nós vivemos disso há muitos anos”.
Três décadas atrás, os índios zapotecas no Estado de Oaxaca, no sul do México, lutaram e ganharam o direito de manejar a floresta comunitariamente. Antes disso, as empresas estatais tinham explorado seus recursos como queriam com concessões do governo federal.
Eles lentamente estabeleceram sua própria madeireira e, ao mesmo tempo, começaram a estudar a melhor forma de proteger a floresta. Agora, as empresas do município empregam 300 pessoas que colhem madeira, produzem móveis e cuidam da floresta, e Ixtlan cresceu e se tornou um exemplo de propriedade e gestão florestal comunitária, segundo especialistas internacionais.
Agora, as empresas florestais comunitárias no México vão desde as florestas de mogno da Península de Yucatán até as florestas de pinheiro e carvalho a oeste de Sierra Madre. Cerca de 60 empresas, incluindo a de Ixtlan, são certificadas pelo Conselho Florestal da Alemanha, que avalia as práticas florestais sustentáveis. Entre 60% e 80% das florestas remanescentes do México estão sob controle das comunidades, de acordo com Sergio Madrid, do Conselho Cívico de Manejo Florestal Sustentável do México.
“É surpreendente o que está acontecendo no México”, disse David Barton Bray, um especialista em manejo florestal comunitário da Universidade Internacional da Flórida, que estudou Ixtlan.
O governo mexicano pretende mostrar o sucesso do manejo florestal comunitário nas conversações sobre o clima em Cancún, na próxima semana. Apesar das negociações contenciosas sobre a redução das emissões de carbono, aquelas sobre remunerar países em desenvolvimento para que protejam suas florestas avançaram mais do que a maioria das outras questões.
Nos países em desenvolvimento, onde o Estado de Direito é fraco e sua execução irregular, apenas declarar uma floresta fora dos limites faz pouco para impedir a extração ilegal de madeira ou o desmatamento para a agricultura ou o desenvolvimento.
“A menos que as comunidades locais estejam comprometidas com a conservação e proteção das florestas isso não vai acontecer”, disse David Kaimowitz, ex-diretor do Centro para Pesquisa Florestal Internacional, ou CIFOR, que agora está na Fundação Ford. “O governo não pode fazer isso por eles”.
Um estudo recente do órgão relatou que mais de um quarto das florestas nos países em desenvolvimento são agora geridas por comunidades locais. A tendência é mundial – da China ao Brasil.
Em Ixtlan, sob tradições zapotecas, todas as decisões sobre a floresta e seus negócios são tomadas por um conjunto de 390 habitantes (na sua maioria do sexo masculino). Estes “comuneros” são necessários e contribuem com seu trabalho com a floresta e suas empresas.
“Você pode ver a harmonia”, disse Francisco Luna, secretário do comitê encarregado da floresta e seus negócios. “Para que nós vivamos em paz, temos que respeitar todas as regras”.
Muitos dos problemas que afligem outras florestas no México, como a extração ilegal de madeira e o desmatamento, são ínfimos aqui. Pedro Garcia Vidal, um engenheiro florestal que atua em Ixtlan a longa data e agora trabalha para a Rainforest Alliance, riu quando foi questionado sobre a exploração madeireira ilegal nos 48.000 hectares de floresta que a comunidade possui.
“Qualquer um que tenta seu próprio negócio ilegal é duramente julgado”, ele disse. “A assembléia é muito difícil”. O “comunero” que se atreve a funcionar como um guia para madeireiros ilegais e caçadores é considerado um traidor e perde todos os direitos de propriedade.
Mas o comando de uma assembleia de iguais com base em costumes ancestrais pode dificultar os negócios. “Leva muito tempo para chegarmos a um acordo”, disse García, cujo pai foi da geração que vendeu seus animais de criação para abrir a primeira serraria da comunidade. “A assembleia pode se tornar emocional ou técnica”.
No ano passado, as empresas da comunidade obtiveram um lucro de cerca de US$ 230.000. Desse total, 30% voltou para a empresa, outros 30% entraram na preservação das florestas e os 40% finais voltaram aos trabalhadores e à comunidade onde pagam por coisas como as pensões, uma cooperativa de crédito a juros baixos e moradia para estudantes na capital do Estado. A maioria dos engenheiros florestais da empresa e seus gestores é formada por filhos e filhas dos comuneros mais velhos, que completaram estudo universitário.
É uma mistura estranha de negócios, reconheceu Alberto Belmonte, que é encarregado de encontrar novos mercados para os móveis e a madeira serrada que Ixtlan e dois municípios vizinhos produzem.
“Vivemos um socialismo puro e simples nas comunidades, mas temos um ideal capitalista, onde dizemos: ‘Você sabe o quê? Temos de ser rentáveis’”.
Muitos dos móveis simples de Ixtlan são vendidos para o governo do Estado e a fábrica está ocupada concluindo a fabricação de móveis para um lar para crianças, com beliches e armários. Belmonte tem planos de melhorar o design e chegar ao mercado da Cidade do México.
Julio Garcia Gomes, 31, um trabalhador da serraria, voltou a Ixtlan depois de passar cinco anos em Nova Jersey, onde trabalhou ilegalmente, para aumentar a sua jovem família. O salário aqui tem aumentado desde que ele voltou, ele disse, “por causa do equipamento, por causa do treinamento”.
Ainda que um negócio auto-sustentável, Ixtlan ainda é um trabalho em andamento. Entidades não-governamentais, bem como o governo mexicano, fornecem financiamento e aconselhamento. E mesmo os mais fortes defensores do manejo florestal comunitário reconhecem que o modelo não é a resposta para a proteção das florestas de todo o mundo. Ele funciona melhor em áreas que produzem madeira de qualidade, disse Bray.
Mas é uma grande melhoria em relação ao que existia antes.
“As coisas estão funcionando”, disse Francisco Chapela, um agrônomo que veio pela primeira vez a Oaxaca há 30 anos e agora trabalha para a Rainforest Alliance, no México. “O manejo florestal é um grande sucesso”, continuou. “Se você olhar para fotografias aéreas antigas e comparar com o que é agora, a floresta está crescendo aqui”.
”Muitos empregos foram criados e um monte de dinheiro começou a chegar às comunidades”.
* Por Elisabeth Malkin
In Princesa newa